terça-feira, 23 de outubro de 2012

LEI 10.639/03

A proposta do movimento social negro, só veio a ser atendida, em grande

parte, em 09 de janeiro de 2003, com a assinatura da lei 10639/03, oriunda do Projeto de

Lei nº 259, apresentado em 1999 pela deputada Esther Grossi e pelo deputado Benhur

Ferreira.

A nova legislação acrescentou dois Artigos a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei 9.394/96):

Art.26-A-

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre história e Cultura Afro-

Brasileira.


Parágrafo Primeiro
-
O conteúdo programático a que se refere o caput deste

artigo incluirá o estudo da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a

cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,

resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e

política, pertinentes à História do Brasil.


Parágrafo segundo -

Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-

Brasileira serão ministrados no âmbito de todo currículo escolar em especial,

nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.


Art.79-B –

O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia

Nacional da Consciência Negra”.

ALGUNS CONTOS AFRICANOS


O MACACO E O HIPOPÓTAMO – Fábulas Infantis Africanas

O MACACO E O HIPOPÓTAMO

Em uma época muito antiga, quando as bananeiras produziam poucas bananas, existiam numerosos macacos.

Havia um deles chamado Travesso, que morava nas margens do rio.

O macaco Travesso possuía um grupo de bananeiras que lhe proporcionavam frutos suficientes para a sua alimentação, o que lhe trazia satisfação e orgulho porque os seus frutos eram os mais saborosos da região.

No rio habitava o hipopótamo Ra-Ra, que era o rei daquelas paragens.

A corpulência desse animal era notável e tão grande a sua boca, que podia tragar seis macacos de uma só vez.

Além disso, gostava imensamente de bananas e, especialmente as da propriedade de Travesso.

Ra-Ra resolveu roubar-lhe as bananas, apesar de não ser um ato muito bonito para um rei.

Ordenou então a todos os papagaios que as trouxessem para a sua residência.

Entretanto, o macaco não arredava pé do seu grupo de bananeiras, a fim de impedir que desaparecessem, furtados, os seus preciosos frutos.

Os papagaios logo encontraram este obstáculo sério e recorreram à astúcia para cumprir as ordens do rei.

Após uma conferência de várias horas estudando diversas soluções para resolver eficientemente o problema do roubo, concordaram em

dizer ao macaco ■ que seu irmão estava muito doente e desejava vê-lo.

Quando Travesso recebeu a notícia, bom irmão que era, foi depressa procurar seu irmão doente.

Verificou logo que aquilo não era verdade.

Seu irmão estava gozando de boa saúde e, suspeitando imediatamente do que se tratava, voltou a toda pressa para perto de suas bananeiras.

Uma surpresa dolorosa o aguardava. Não ficara nem uma banana para semente. Enquanto lamentava sua perda aproximou–se um papagaio, dizendo-lhe:

— Oh!, irmão Travesso! Sabes que Ra-Ra, o hipopótamo, nos obrigou a roubar-te as bananas e depois não nos quis dar uma só!

— Ah! E’ assim? Então espera… Irei à casa de Ra-Ra e tirar-lhe-ei as minhas bananas! — exclamou o macaco.

A serpente» que é um animal invejoso, cheio de defeitos, dos quais o pior é o espírito de intriga, passou por ali por acaso quando o ma-

caco falava e, ato contínuo, foi contar tudo ao hipopótamo.

— Está bem! — disse Ra-Ra. — Em tal caso ordeno ao Travesso que compareça aqui quanto antes.

A Serpente voltou ao lugar em que vivia Travesso e lhe deu a ordem de Ra-Ra, de modo que o macaco se pôs a tremer, pois, não era tão valente como as suas palavras pareciam revelar.

Era preciso obedecer e quando se dispunha a fazer a desagradável visita ao hipopótamo, ocorreu-lhe uma idéia.

Preparou com o maior cuidado uma boa quantidade de visgo, a cola que usava para caçar passarinhos, e untou-se com êle muito bem.

Feito isto encaminhou-se para a casa de Ra-Ra, à margem do rio.

— Disseram-me — disse-lhe o hipopótamo, ao vê-lo — que ameaçaste de vir recobrar tuas bananas. É certo que o disseste?

— De modo algum, senhor — respondeu Travesso. — Tanto minhas frutas como eu mesmo estamos à sua disposição.


O papagaio combinou com o macaco...

— Bem, fico muito satisfeito em ouvir estas palavras. Sem dúvida, quiseram fazer intriga e contaram-me essa mentira. Senta-te. Porém, procura fazê-lo de frente para mim e sem tocar em nenhuma das bananas que estão atrás de ti.

Assim fêz Travesso, apoiando çom força as costas, inteiramente untadas, contra as bananas.

— Disseram-me que sabes muitas histórias. Queres contar-me uma?

O macaco dispôs-se a satisfazer o desejo de seu soberano e lhe contou uma história muito interessante.

Enquanto isso não se esquecia de esfregar o corpo contra as bananas afim de que aderisse às suas costas o maior nòmero delas.

Terminado o conto , Ra-Ra disse-lhe:

— Obrigado. Podes sair, mas toma cuidado para saíres de frente para mim. Assim se deve fazer diante de um rei.

Nada podia favorecer melhor o macaco, que estava com as costas cheias das bananas que a elas se haviam colado.


O macaco viu o hipopótamo

Quando se viu fora da casa do hipopótamo, pôs-se a correr, ocultando-se.

Os papagaios não tardaram a descobrir a astúcia do macaco e foram correndo contar a Ra-Ra.

O hipopótamo, ao tomar conhecimento da notícia, teve tão grande ataque de raiva que virou de barriga para o ar, morrendo instantaneamente.

Então, os animais reuniram-se e, diante da inteligência do macaco, resolveram aclamá-lo soberano.

Ficou muito conhecido por sua esperteza e deram-lhe, então, o nome de Sua Majestade Travesso I, o Esperto.

E o seu governo foi sábio e prudente, durante anos e anos.

(Trad. e Adapt. Leoncio de Sá Ferreira.)

 

O LEOPARDO


Um dia, o leopardo Nebr teve fome e logo tratou de arranjar maneira de encontrar comida, da forma mais fácil.

Pediu ao seu filho Shabeel, que espalhasse pelas redondezas que, ele, a Sua Alteza, o Rei da Floresta, se encontrava muito doente. Assim foi feito! Um pouco por todo o lado se começou a ouvir o seguinte anúncio:

O leopardo Nebr, nosso chefe, está a morrer.
Todos os animais devem vir visitá-lo.

Pouco a pouco, alguns animais começaram a chegar a casa de Nebr, que ao pressenti-los, deitou-se, fechou os olhos e fingiu-se de morto. Não demorou muito, para que novos cânticos começassem a circular:

O nosso Rei morreu, morreu.
Que tristeza a nossa!

Depois de Shabeel ter trancado as portas, Nebr levantou-se de repente e matou todos quantos se encontravam na sua casa; comendo uns e guardando outros, para mais tarde se refastelar.

Passado mais algum tempo, chegaram outros animais, para prestar as suas condolências. Entre eles, vinha a gazela, acompanhada do porco-espinho. Desconfiada, reuniu todos os presentes e contou-lhes das suspeitas que tinha sobre estarem a cair numa armadilha do leopardo. Como forma de precaução, decidiram procurar um lugar para se esconderem, caso fosse necessário. Todavia, só o porco-espinho é que não conseguiu encontrar um esconderijo.

É então, que a gazela, espreitando para dentro da casa de Nebr, teve a seguinte ideia:

-Porco-espinho, tu vais devagarinho esconder-te naquele buraco que está perto do leopardo. Depois, cravas-lhe no corpo um dos teus espinhos mais fortes e quando vires que as coisas estão mal paradas, escondes-te, que nós fazemos o mesmo.

Assim foi! O porco-espinho dirigiu-se para junto de Nebr, o qual continuava a fingir estar morto. Primeiro, espetou os espinhos devagarinho e nada aconteceu.

O leopardo estava mesmo morto!

Depois, decidiu cravar com mais força. Foi, então que , Nebr, não conseguindo aguentar as dores por mais tempo, se levantou e começou a correr atrás do seu agressor.

Todos se esconderam, enquanto o leopardo ficava cada vez mais furioso. Face a esta situação, a gazela cantarolou:

O leopardo é o Rei da Floresta pela sua força, mas não pela esperteza.

e os outros animais repetiram em coro:

Devemos a vida à pequena e esperta gazela.

A ela devemos a vida!

 

POR QUE O PORCO VIVE NO CHIQUEIRO

 

Esta história é do tempo em que o porco morava com o dentuço do seu tio, o javali, lá no meio da mata africana.

Os dois passavam as manhãs, alegres e despreocupados, fuçando o chão em busca de frutas e raízes. À tardinha, depois de ficarem horas e horas se banhando e chafurdando nas águas dos inumeráveis rios que cortam a profundeza da selva, regressavam à casa, situada no oco de uma árvore muito velha, para tirarem uma longa soneca.

O javali adorava a vida ao ar livre. Graças aos seus pontiagudos e afiados dentes, não era incomodado, nem mesmo pelo poderoso rei da selva: o leão, que o tratava com todo respeito.

Mas o porco, muito preguiçoso, vivia reclamando de tudo. Um dia, ele chegou perto do tio e anunciou:
- Eu quero morar na aldeia dos homens.
- O quê?- respondeu o surpreso javali. – As pessoas que moram naquelas estranhas cabanas cobertas de palha não gostam de bichos. Vão te prender. – avisou.
- Estou cansado de comer só frutas e raízes todos os dias - protestou o porco.
- Não faça isso, sobrinho pediu o javali. – Aqui nós vivemos em liberdade e junto à natureza - aconselhou o mais velho.
O porco, que vivia sonhando saborear as guloseimas dos caldeirões fumegantes das mulheres, não deu ouvidos às advertências do tio e partiu no dia seguinte.

A viagem até a aldeia dos homens foi longa, penosa e cheia de perigos. Mas o guloso, farejando a comida no ar, acabou chegando a um grande povoado.

As crianças do vilarejo, assim que avistaram o animal, foram correndo chamar os adultos. Os homens, armados de paus e porretes, pegaram o pobre do porco e o colocaram dentro de um cercado.
Desde esse dia ele vive preso no chiqueiro comendo restos de comida e, lamentando a sua sorte, choraminga dia e noite:
- Bem que meu tio disse para eu não vir para a aldeia dos homens.

 

GRAÇAS À RÃ MAINU

 

Quando o filho de Kimanaueza chegou à idade de casar, o pai perguntou.-lhe se queria escolher a noiva. Mas ele deu uma resposta surpreendente:

– Não me casarei com uma mulher da terra, só casarei com a filha do senhor SOL e da senhora LUA.

– E como pensas pedi-la em casamento?

– Cá me hei de arranjar.

O rapaz escreveu uma carta e foi pedir a um veado que a levasse. Ele recusou:

– Sendo um animal terrestre, não posso levar ao céu a carta.

– Tens razão, vou arranjar outro mensageiro.

Depois de falar com o antílope que lhe deu uma resposta semelhante à do veado, o rapaz procurou quem pudesse voar. Teve uma conversa com o falcão, que ainda agitou as asas mas desistiu:

– Desculpa, não te posso valer. O céu é muito alto.

Quanto ao abutre, foi mais direto:

– Nem penses. O fôlego só me permite ir até meio caminho.

Desconsolado o rapaz guardou a carta. Acontece que a notícia daquele estranho desejo já se tinha espalhado pela aldeia e chegou aos ouvidos da rã Mainu, que resolveu oferecer os seus serviços. O rapaz ficou admirado e até zangado:

– Como te atreves a dizer que vais ao céu se aqueles que possuem asas garantem que não é possível!

– Dá-me a carta e eu levo-a - insistiu a rã Mainu.

Ele aceitou com maus modos.

– Toma. Mas olha que se não cumprires o combinado, levas uma sova.

A rã não ficou nada aflita. Dirigiu-se ao poço onde o povo do Sol e da Lua costumava abastecer-se de água, prendeu a carta na boca, desceu e ficou quieta.

As pessoas esperadas não tardaram e logo que lançaram o balde à água a rã entrou disfarçadamente e assim viajou até ao céu sem ninguém saber. Chegando ao destino, deu um pulo e foi colocar a carta no quarto do rei Sol e da senhora Lua. Eles ficaram muito admirados quando leram a carta, mas aceitaram o pedido. A rã Mainu regressou a casa pelo mesmo processo. A noiva desceu à terra deslizando por um fio especial tecido pela aranha que servia o rei.

O rapaz casou com a filha do senhor Sol e da senhora Lua, foram felizes para sempre e tudo graças à inteligência viva da rã Mainu.

O SAHULI

Era uma vez um homem que se chamava Sahúli. Era cego e tinha dois filhos que se dedicavam à caça e andavam com uma espingarda.

Um dia, os filhos foram caçar para a região deserta e levaram o pai, para que guardasse a carne. Quando chegaram, montaram o acampamento e partiram para a caça.

O pai ficou sozinho e começou a ouvir atrás de si: nji!nji! Eram passos de uma pessoa. E Sahúli disse:
- Sê benvindo, amigo!
O que tinha chegado, respondeu:
- Obrigado, amigo! E perguntou a Sahúli:
- Ó amigo! De que é que sofres? Estás cego dos olhos ou do coração?
Sahúli respondeu: - Os olhos estão cegos! O coração, cá dentro, está são!
O outro voltou-se: - Então diz: "Claridade"!

Quando Sahúli disse claridade, os seus olhos abriram-se e viu o homem sentado à sua beira. Sahúli preparou um pouco de tabaco, acendeu-o e deu-o ao amigo. Depois, os dois começaram a arrumar o acampamento: foram à lenha, foram à água, varreram, fizeram comida. E tudo ficou em ordem. Por fim, aquele que tinha vindo, disse: - Ó amigo! Estás cego dos olhos ou do coração?

Sahúli respondeu: - Estou cego dos olhos. Então, diz "Escuridão"! Disse o amigo. E Sahúli disse escuridão e deixou logo de ver. Quando os filhos chegaram ao acampamento ficaram muito admirados e perguntaram: - Quem arrumou tudo isto? Sahúli contou-lhe o que se tinha passado, que tinha recuperado a vista por instantes. Os filhos disseram-lhe então: - Se esse amigo voltar, quando ele te pedir para dizeres escuridão, tu não dizes e em vez disso, vais dizer claridade. E vamos ver o que acontece! Fez-se noite e eles deitaram-se. E de manhã lá foram para a floresta caçar. O pai, mais uma vez, ficou no acampamento até que voltou a ouvir: nji!nji! Sahúli disse-lhe: - Sê bem vindo, amigo. O outro responde-lhe: - Obrigado amigo! E perguntou-lhe: - Ó amigo! De que sofres? Dos olhos ou do coração? Sahúli disse: - Estou cego dos olhos! E o amigo pede-lhe para ele dizer " Claridade".

Sahúli, mais uma vez, disse a palavra e os seus olhos abriram-se. Sahúli preparou novamente um pouco de tabaco, acendeu-o e ofereceu-lho. Depois de o terem fumado, começaram a fazer o trabalho deles.

Sahúli não se tinha esquecido do conselho dos filhos. Tirou comida e ofereceu-a ao amigo. E tudo correu bem até ao fim. Até que o outro se preparava para ir embora e perguntou a Sahúli:
- Ó Sahúli! Estás cego dos olhos ou do coração?! Ele respondeu dizendo:
- Os olhos estão cegos! O coração está são! E o outro:
- Ora diz "Escuridão"! Mas, Sahúli, lembrando-se do que os seus filhos lhe tinham dito, respondeu:
- "Claridade". E eis que ele continuou a ver! O amigo pegou numa mezinha que trazia consigo, aplicou-a nos olhos do Sahúli e eles ficarão sãos.

Despediram-se, fizeram cargas de carne para o outro e ele partiu. Quando os filhos voltaram, ficaram muito alegres por verem que o pai tinha recuperado a vista. Deixaram o acampamento e foram para a aldeia, onde os receberam com muitas palmas.

Fonte: Odisseia 2000

PORQUE O CACHORRO FOI MORAR COM O HOMEM


O cachorro, que todos dizem ser o melhor amigo do homem, vivia antigamente no meio do mato com seus primos, o chacal e o lobo.

Os três brincavam de correr pelas Campinas sem fim, matavam a sede nos riachos e caçavam sempre juntos.

Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham dificuldades para encontrar o que comer. A vegetação e os rios secavam, fazendo com que aos animais da floresta fugissem em busca de outras paragens.

Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do forte calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.

– Precisamos mandar alguém à aldeia dos homens para apanhar um pouco de fogo- disse o lobo.

– Fogo?- perguntou o cachorro.
– Para queimara o capim e comer gafanhotos assados - respondeu o chacal com água na boca.
– E quem vai buscar o fogo?- tornou a perguntar o cachorro.
– Você!- responderam o lobo e o chacal, ao mesmo tempo, apontando para o cão.

De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve outro jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer a cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa boa.

O cachorro correu e correu até alcançar o cercado de espinhos e paus pontudos que protegia a aldeia dos ataques dos leões. A notícia, e das cabanas saía um cheiro gostoso. O cachorro entrou numa delas e viu uma mulher dando de comer se distrair para ele pegar um tição.

Uma panela de mingau de milho fumegava sobre uma fogueira. Dali, a mulher, sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e as passava para uma tigela de barro.

Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto do mingau para o cão. O bicho, esfomeado, devorou tudo e adorou. Enquanto comia, a criança se aproximou e acariciou o seu pêlo. Então, o cão disse para si mesmo:

– Eu é que não volto mais para a floresta. O lobo e o chacal vivem me dando ordens. Aqui não falta comida e as pessoas gostam de mim. De hoje em diante vou morar com os homens e ajuda-los a tomar conta de suas casas.

E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa disso que o lobo e chacal ficam uivando na floresta, chamando pelo primo fujão.

O CANDIMBA E O RATO DO MATO

O Candimba passava a vida a saltar vedações para roubar comida nas lavras e, por causa disso era sempre perseguido pelas pessoas e pelos cães.

Raro era o dia em que se não ouvissem gritos.

– Agarra, agarra que aí vai o Candimba!

O rato do mato, desconhecendo a razão de tudo aquilo, perguntou-lhe certo dia:

– Ouve lá, ó Candimba, que é que se passa contigo? Oiço sempre gritar pelo teu nome! Andas metido nalguma maca?

O Candimba, na sua esperteza, para não ser conhecido como gatuno das lavras, respondeu:

– Então não sabes o que se passa? Olha, olha, aquele barulho é da hiena que vive numa jaula, no quintal da minha vizinha Helena.

– Será mesmo? - estranhou o rato do mato.

– É mesmo! Se quiseres ter a certeza do que te digo, vai até à minha casa e logo verás se é verdade ou não.

O rato do mato, cheio de curiosidade, foi lá ter no dia seguinte.

O Candimba disse-lhe:

– Senta-te atrás deste morro de salalé e espera por mim. Eu vou chamar a Helena para ela te mostrar a jaula com a hiena lá dentro.

O rato do mato, convencido pelas palavras do amigo, ficou à espera.

O Candimba como de costume foi assaltar as lavras. Ele conseguiu roubar um abacaxi da lavra da Xana. Mas, nesse dia, andavam caçadores muito perto e, mal o Candimba saltou a vedação e roubou o abacaxi, viu um grupo de caçadores com lebres e perdizes penduradas no cinto.

Os cães correram logo atrás dele, a latir, e os homens perseguiram-nos com paus e com pedras a chover de todos os lados.

O Candimba, que era bom na corrida, em poucos minutos chegou à sua toca, muito assustado.

O rato do mato, ao vê-lo aflito, perguntou-lhe:

– Afinal que se passa? Donde vens tão atrapalhado?

– Atrapalhado o quê? Venho a correr para te avisar que a hiena da Helena já comeu hoje metade de um hipopótamo e ainda está cheio de fome. É melhor fugires.

Fonte: Odisséia 2000

 

 

 

 

 

 

 

 

O CÃO E O CHACAL


Um dia, no mato, o chacal disse ao seu parente, o cão:

Vai à aldeia à procura de fogo para queimarmos a planície. Depois de queimada, podemos apanhar os gafanhotos e comê-los.

O cão partiu para a aldeia. Entrou numa casa e viu uma mulher a dar papas a um filho. A mulher, depois de ter alimentado a criança, raspou a panela e deu os restos ao cão. Este lambeu-se todo com aquela comida e pensou:

Para que hei de euvoltar para o mato, se aqui na aldeia não passo fome?

E decidiu ficar na casa.

O chacal ficou à espera do companheiro que nunca mais voltou. Desesperado, pôs-se a uivar até hoje.

Fonte: Odisséia 2000

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PORQUE O MORCEGO SÓ VOA DE NOITE

Há muito tempo houve uma tremenda guerra entre as aves e o restante dos animais que povoa as florestas, savanas e montanhas africanas.

Naquela época, o morcego, esse estanho bicho, de corpo semelhante ao do rato, mas provido de poderosas asas, levava uma vida mansa, voando de dia entre as enormes e frondosas árvores à cata de insetos e frutas.

Uma tarde, pendurado de cabeça pra baixo num galho, ele tirava a soneca costumeira, quando foi despertado bruscamente pelos trinados aflitos de um passarinho:

– Atenção, todas as aves! Foi declarada guerra aos quadrúpedes. Todos aqueles que têm asas e sabem voar devem se unir na luta contra os bichos que andam pelo chão.

O morcego ainda estava se refazendo do susto, quando uma hiena passou correndo e uivando aos quatro ventos:

– Atenção, atenção! Foi declarada guerra às aves! Todos os bichos de quatro patas devem se apresentar ao exército dos animais terrestres.

– E agora? - perguntou a si mesmo o aparvalhado morcego – Eu não sou uma coisa nem outra.
Indeciso, não sabendo a quem apoiar, resolveu aguardar o resultado da luta:

– Eu é que não sou bobo. Vou me apresentar ao lado que estiver vencendo - decidiu.

Dias depois, escondido entre as folhagens, viu um bando de animais fugindo em carreira desabalada, perseguidos por uma multidão de aves que distribuía bicadas a torto e a direito. Os donos de asas estavam vencendo a batalha e, por isso, ele voou para se juntar às tropas aladas.

Uma águia gigantesca, ao ver aquele rato com asas, perguntou:

– O que você está fazendo aqui?

– Não está vendo que sou um dos seus? Veja! - disse o morcego abrindo as asas – Vim o mais rápido que pude para me alistar - mentiu.

– Oh! Queira me desculpar - falou a desconfiada águia. – Seja bem-vindo à nossa vitoriosa esquadrilha.

Na manhã seguinte, os animais terrestres, reforçados por uma manada de elefantes, reiniciaram a luta e derrotaram as aves, espalhando penas pra tudo quanto era lado.

O morcego, na mesma hora, fechou as asas e foi correndo se reunir ao exército vencedor.

– Quem é você? - rosnou um leão.

– Um bicho de quatro patas como Vossa Majestade - respondeu o farsante, exibindo os dentinhos afiados.

– E essa asas? - interrogou um dos elefantes. – Deve ser um espião. Fora daqui! - berrou o paquiderme erguendo a poderosa tromba num gesto ameaçador.

O morcego rejeitado pelos dois lados, não teve outra solução: passou a viver isolado de todo mundo, escondido durante o dia em cavernas e lugares escuros.

É por isso que até hoje ele só voa de noite.


PORQUE O CAMALEÃO MUDA DE COR


Há muitas e muitas luas, a lebre e o camaleão eram amigos inseparáveis.

Naquele tempo, o interior da África era percorrido a pé por longas caravanas. Todos carregavam pacotes e cestos à cabeça, repletos de cera e borracha, que trocavam por panos nas vendas dos comerciantes brancos nas vilas situadas junto ao mar.

A lebre e o camaleão, tão logo ouviam o cântico e o alarido dos carregadores, se arrumavam rapidamente para seguir atrás dos homens.

Os dois gostavam de fazer negócios também e, com suas pequenas trouxas, marchavam na retaguarda das alegres comitivas. Os carregadores traziam guizos e campainhas presos aos tornozelos, fazendo uma barulheira infernal, que servia para afugentar as feras selvagens do caminho.

A lebre, sempre apressada, fazia tudo correndo. Assim que chegava à loja do homem branco, trocava rapidinho sua cera por tecidos multicolores e dizia para o camaleão:

– Já estou indo - e sumia pela mata afora.

O camaleão, muito calmo, respondia:

– Não tenho pressa- e regressava lentamente para a imensa floresta por causa das suas correrias insensatas.

É por essa razão que a apressadinha anda até hoje vestida com um pano cinzento, sujo e desbotado.

O lento e responsável camaleão juntou muitos tecidos das mais variadas tonalidades, e é por isso que ele pode trocar de cor a toda hora.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

A SERPENTE DE OLUMO


Um jovem, chamado Ayobami, vivia feliz na sua aldeia até ao momento em que, tendo atingido a idade adequada, decidiu, com o consentimento dos pais, arranjar mulher e casar.

Ayobami tinha duas amigas que já conhecia há muito tempo e com as quais passara toda a sua infância: a mais nova chamava-se Olu, a outra Yemesi. Ayobami queria absolutamente casar-se com uma das duas, mas não sabia qual delas escolher. Eram muito diferentes uma da outra, mas igualmente belas.

Pelo seu lado, as duas jovens amavam Ayobami. O homem era bom trabalhador e excelente caçador; possuía o sentido da justiça, sendo respeitado em toda a aldeia e bastante conhecido nos arredores. Ayobami era rico e bem constituído, teria podido muito bem casar com as duas raparigas ao mesmo tempo; mas a tradição não o permitia. Não conseguindo decidir-se, viam-no ficar longas horas sentado diante da sua cabana, a examinar as vantagens que teria em se casar com uma ou com outra. Quando julgava ter decidido e se levantava para ir anúnciar a boa nova a seus pais, pensava imediatamente nas qualidades da outra e voltava a hesitar.

As duas jovens, por seu lado, rivalizavam em gentileza e em beleza, não estando nenhuma delas disposta a ceder o seu lugar à outra. A última palavra cabia, pois, a Ayobami. Precisava de saber, a todo o custo, qual das raparigas o amava mais.

Uma tarde, enquanto as duas raparigas estavam sentadas ao pé de Ayobami, estando este a refletir nesse problema, uma serpente transparente saíu da floresta de Olumo, uma das colinas da região de Abeokuta. Tinha à cabeça três enfeites, e todo o seu corpo, extremamente comprido, fumegava ligeiramente ao deslizar em silêncio por entre as ervas. Quando chegou perto da fogueira, ergueu-se sobre a cauda e dançou por instantes, enquanto as chamas brilhavam nos seus olhos vermelhos. Todos estes sinais lhe davam uma aparência mágica, e toda a gente reconheceu assim nela uma serpente enfeitiçada e sagrada.

Ayobami, que estava de costas para a serpente, não a viu chegar, e quando as duas raparigas finalmente a avistaram, já era demasido tarde. Gritaram ao mesmo tempo quando a serpente mordeu Ayobami na coxa, antes de desaparecer na noite. Ela cumprira assim a missão que os deuses lhe tinham confiado.

Em breve, Ayobami foi obrigado a ir-se deitar no interior da sua cabana. As duas jovens
despertaram então toda a aldeia. Foram procurar o curandeiro que, reconhecendo nisso um sinal dos deuses, não quis intervir.
As velhas mandaram, então, ferver imediatamente umas ervas e uns pós, que puseram na ferida, mas sem sucesso. Tudo foi tentado para salvar a vida de Ayobami; contudo, umas horas depois, este acabou por morrer, sem sequer ter voltado a abrir os olhos e, sobretudo, sem ter chegado a dizer qual das duas jovens preferia.

Ambas se puseram então a chorar a morte do seu amigo. De manhã, Olu, a mais nova, levantou-se e proferiu as seguintes palavras:

-Sem a existência de Ayobami, a minha vida já não tem sentido. Quando o fogo morre, o fumo desaparece com ele. Não posso viver sem a sua presença. Assim, vou hoje juntar-me a ele na morte.

E, antes que alguém a tivesse podido impedir, pôs-se a correr através do mato. Encontrou a pista da serpente enfeitiçada, foi ter com ela e, por seu turno, fez com que ela a mordesse. Olu tombou por terra, caindo entre as ervas, e morreu pouco depois, julgando estar aí todo o preço do seu amor.

Yemesi não sabia o que fazer. Refletiu alguns instantes e, depois, de súbito, decidiu-se. Entrou na cabana de seu pai, pegou na grande catana pendurada numa das paredes, e seguiu igualmente a pista da serpente. Quando a apanhou, e no momento em que erguia a arma para lhe cortar a cabeça, a serpente ergueu-se à sua frente e disse-lhe:

-Yemesi, não me mates! Se me deixares viver, ajudarte-ei a salvar Ayobami.

A jovem aceitou e a serpente deu-lhe, então, dois saquinhos, um contendo um pó negro e outro um pó branco.

-Pega nestes dois sacos e pôe-te em cima do cadáver de Ayobami. Fecha os olhos e lança o pó negro para muito longe, na direção do sol nascente, e o pó branco também para muito longe, na direção do sol poente.

Yemesi seguiu os conselhos da serpente e, de imediato, Ayobami e Olu foram misteriosamente ressuscitados.

Ayobami não hesitou mais e escolheu aquela que devia ser a sua esposa para toda a vida.

Caro leitor se fosses Ayobami, qual das duas jovens terias escolhido: aquela que lhe provou o seu amor morrendo com ele, ou aquela que lhe voltou a dar a vida.

HISTÓRIAS DE ORIXAS

Oxumarê: No principio quando não havia separação entre o Céu e a Terra,
Oxalá e Odudua viviam juntos dentro de uma cabaça.
Extremamente apertados, um contra o outro.
Odudua embaixo e Oxalá em cima.
Eles tinham sete anéis.
À noite eles colocavam seus anéis, e, aquele que dormia por cima sempre colocava quatro anéis, e o que ficava por baixo colocava os três restantes.
Um dia Odudua, deusa da Terra, quis dormir por cima
Para poder usar nos dedos quatro anéis.
Oxalá, o deus do Céu, não aceitou
Tal foi à luta que travaram os dois lá dentro
Que a cabaça acabou por se romper em duas metades,
A parte inferior da cabaça, com Odudua , permaneceu embaixo,
E a parte superior com Oxalá, ficou em cima,
Separando-se assim o Céu e a terra.

Oxalá cria a Terra

No começo, o mundo era todo pantanoso e cheio dágua,
Um lugar inóspito, sem nenhuma serventia.
Acima dele havia o Céu, onde viviam Olorum e todos os orixás
Que às vezes desciam para brincar nos pântanos insalubres.
Desciam por teias de aranha pendurada no vazio.
Ainda não havia terra firme, nem o homem existia.
Um dia Olorum chamou à sua presença Oxalá, o grande orixá.
Disse-lhe que queria criar terra firme lá embaixo
E pediu-lhe que realizasse tal tarefa.
Para missão, deu-lhe uma concha marinha com terra,
Uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos.
Oxalá desceu ao pântano e depositou a terra da concha sobre a terra pôs a pomba e a foram assim espalhando a terra que viera na concha
Até que terra firme se formou por toda parte.
Oxalá voltou a Olorum e relatou-se o sucedido.
Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá
E ele não pôde andar sobre o solo que ainda não era firme.
O camaleão voltou dizendo que a terra era ampla,
Mas ainda não suficientemente seca.
Numa segunda viagem o camaleão trouxe a notícia
De que a terra era ampla e suficientemente sólida,
Podendo-se agora viver em sua superfície.
O lugar mais tarde foi chamado de Ifé, que dizer ampla morada.
Depois Olorum mandou Oxalá de volta à terra
Para plantar árvores e dar alimentos e riquezas ao homem
E veio a chuva para regar as árvores.
Foi assim que tudo começou.
Foi ali, em Ifé, durante uma semana que quatro dias
Que Oxalá criou o mundo e tudo que existe nele.

Nanã fornece a lama para modelagem do homem

Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano,o orixá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o homem de ar, como ele.
Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho –de–palma, e nada.
Foi então que Nana Burucu veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com seu Ibiri seu cetro e arma,
E de lá retirou uma porção de lama.
Nana deu a porção de lama a Oxalá,
O barro do fundo da lagoa onde morava ela,
A lama sob as águas, que é Nanã
Oxalá criou o homem, o modelou no barro.
Com o sopro de Olorum ele caminhou.
Com a ajuda dos orixás povoou a terra.
Mas tem um dia que o homem morre
E seu corpo tem que retornar a terra,
Voltar a natureza de Nanã Burucu.
Nana deu a matéria no começo
Mas quer de volta no final tudo que é seu.

Oxum faz as mulheres estéreis em represália aos homens

Logo que o mundo foi criado, /todos os orixás vieram para a terra
E começaram a tomar decisões e dividir encargos entre eles,
Em conciliábulos nos quais somente os homens podiam participar.
Oxum não se conformava com essa situação.
Ressentida pela exclusão, ela vingou-se dos orixás masculinos.
Condenou todas as mulheres à esterilidade,
De sorte que qualquer iniciativa masculina
No sentido da fertilidade era fadada ao fracasso.
Por isso, os homens foram consultar Olorum.
Estavam muito alarmados e não sabiam o que fazer
Sem filhos pára criar nem herdeiros para quem deixar suas posses,
Sem novos braços para criar novas riquezas e fazer as guerras
E sem descendentes para não deixar morrer suas memórias.
Olorum soube, então, que Oxum fora excluída das reuniões
Ele aconselhou os orixás a convidá-la, e ás outras mulheres,
Pois sem Oxum e seu poder sobre a fecundidade
Nada poderia ir adiante...

Iemanjá afoga seus amantes no mar

Iemanjá é dona de rara beleza
E, como tal, mulher caprichosa e de apetites extravagantes.
Certa vez saiu de sua morada nas profundezas do mar
E veio à terra em busca do prazer da carne.
Encontrou um pescador jovem e bonito
E o levou para seu líquido leito de amor.
Seus corpos conheceram todas as delícias do encontro,
Mas o pescador era apenas um humano
E morreu afogado nos braços da amante.
Quando amanheceu, Iemanjá devolveu o corpo à praia.
E assim acontece sempre, toda noite,
Quando Iemanjá Conlá se encanta com os pescadores
Que saem em seus barcos e jangadas para trabalhar.
Ela leva o escolhido para o fundo do mar e se deixa possuir
E depois o traz de novo, sem vida, para areia.
As noivas e as esposas correm cedo para praia
Esperando pela volta de seus homens que foram para o mar,
Implorando a Iemanjá que os deixe voltar vivos.
Flores, espelhos e perfumes,
Para que Iemanjá mande sempre muitos peixes
e deixe viver os pescadores.

Iemanjá Ataramagbá

Iemanjá era filha de Olokum, a deusa do mar.
Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua,
Com qual teve dez filhos.
Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tornaram-se orixás
Um deles foi chamado Oxumaré, o arco-íris,
“aquele-que-se-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos”.
De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.
Cansada da sua estadia em Ifé,
Iemanjá fugiu na direção do entardecer-da-terra,
Como os iorubas designam o oeste, chegando a Abeokutá.
Ao norte de Abeukutá, vivia Okere, rei de Xaki
Iemanjá continuava muito bonita .
Okerê desejou-a e propôs –lhe casamento.
Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:
“jamais você ridicularizará da imensidão dos meus seios”.
Okerê , gentil e polido, tratara Iemanjá com consideração e respeito.
Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.
Voltou pra casa bêbado e titubeante.
Ele não sabia mais o que fazia.
Ele não sabia mais o que dizia.
Tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.
Okerê vexado, gritou:
“Você com seus seios grandes e trêmulos!
Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.
Certa vez, antes do seu primeiro casamento,
Iemanjá recebera de sua mãe Olokum,
Uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta: Em caso de necessidade , quebre a garrafa , jogando-a no chão.
Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.
A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio
As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano,
Residência de sua mãe Olokum
Okerê, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher
Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina,
Chamada ainda hoje Okerê, e colocou-se no seu caminho.
Iemanjá quis passar pela direita, Okerê deslocou-se para direita
Iemanjá quis passar pela esquerda, Okerê deslocou-se para esquerda.
Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna,
Chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.
Kawo kabiyesi Sango, Kawo kabiyesi Obá Kossô!
“saudemos o Rei Xangô, saudemos o rei de Kossô!
Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.
Ele pediu uma oferenda de um carneiro e quatro galos,
Um prato de “amalá”, preparado com farinha de inhame,
E um prato de “gbeguiri” feito com feijão e cebola.
E declarou que no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar
Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras da chuva.
Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.
Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.
Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.
Ouviu-se então: kakara rá rá ra´...
Ele havia lançado seus raios sobre a colina de Okerê.
Ela abriu-se em duas e... suichchch..
Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokum.
Aí ficou e recusa-se, desde então a voltar em terra seus filhos chama-se e saúdam-na:
“Odo Iya, a Mãe do rio, ela não volta mais.
Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas coberta de pérolas.
Ela tem filhos no mundo inteiro.
Iemanjá está em todo lugar aonde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes.
Seus filhos fazem oferendas para acalma-la.
Odô Iyá, Yemanjá , Ataramagbá
Ajejê lodo! Ajejê nilê!
“Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!

Xangô e suas esposas transformam-se em orixás

Xangô era um rei muito poderoso.
Vivia com suas esposas Iansã, Oxum e Obá
Sempre preocupado em fazer a guerra,
Estava à procura de uma nova magia para derrotar os inimigos.
Um dia, pensando ter descoberto finalmente
Uma fórmula muito poderosa,
Xangô subiu numa colina e lançou seu experimento.
Era o raio, que maravilha, que poder!
Mas foi muito grande sua decepção.
Com rumor terrível, a invenção precipitou-se sobre seu palácio e o destruiu.
Incendiando também a cidade e matando grande parte de seus súditos.
Desesperado, Xangô fugiu para terra dos vizinhos tapas, seguido por Iansã.
Refugiou-se depois na cidade de Cossô.
Mas a dor não o deixava em paz.
Não suportando maia tristeza que sentia pelo ato impensado, Xangô bateu fortemente os pés no chão, desaparecendo terra adentro.Foi para o Orum.
Iansã o acompanhou e fez o mesmo na cidade de Irá, sendo seguida por Oxum e Obá

Xangô vence Ogum na Pedreira

Xangô e Ogum sempre lutaram entre si,
Ora disputando o amor da mãe, Iemanjá,
Ora disputando o amor da amada, Oxum,
Ora disputando o amor da companheira, Iansã.
Lutaram no começo do mundo e ainda lutam agora.
Ogum usa da sua força física e das armas que fabrica,
Xangô usa da estratégia e da magia.
Ambos são guerreiros temidos.
Mas só uma vez Xangô venceu Ogum na luta.
Numa disputa que travaram por Iansã,
Ora a batalha pendia para um lado,
Ora pendia para o outro.
Ninguém conseguia prever o final,
Ninguém podia apostar quem seria o vencedor.
Foi então que Xangô apelou para a astúcia,
Como é do seu feitio numa hora dessa.
Conduziu a batalha como quem se retirava
E, sem que Ogum percebesse, Xangô o atraiu para a pedreira.
Foi então que Xangô apelou para a magia.
Quando Ogum estava bem no pé da montanha de pedra,
Xangô lançou seu machado Oxé de fazer raio
E um grande estrondo se ouviu.
Com o trovão veio abaixo uma avalanche de pedras
E as pedras soterraram o desprevenido Ogum.
Xangô vencera Ogum na pedreira,
Que desde então foi considerada, elemento de Xangô.
Xangô venceu Ogum naquele dia,
Única vez que alguém venceu Ogum.
Mas esses dois filhos de Iemanjá seguem lutando ainda,
Ora disputando o amor da mãe, Iemanjá,
Ora disputando o amor da amada, Oxum,
Ora disputando o amor da companheira, Iansã.

Xangô mata o monstro e lança chamas pela boca

Certa vez, em Tácua, apareceu um animal feroz,
Que estava devorando os homens e as mulheres do lugar.
Devorava velhos, adultos e crianças.
O pavor se espalhou
E a noticia chegou aos ouvidos de Xangô.
Xangô foi de Mina a Tácua para matar o animal.
O animal era um ser monstruoso, terrível criatura,
Que ninguém conseguia vencer.
Quando viram Xangô chegar, lhe perguntaram:
“Para que vieste? Para perder a vida?”.
Ao que Xangô respondeu:
“Eu vim para acabar com este monstro”
O ser monstruoso rugia e toda a terra tremia.
Ele devorava homens e mulheres.
Xangô não quis soldados para vencer o animal.
Só, e no corpo-a-corpo, Xangô lutou e matou o monstro.
Xangô vitorioso estava feliz. Xangô cantava e dançava de contentamento.

Griôts - Como vímos Xangô, Iansã, Ogum Iemanjá, oxum e Oxossi já haviam retornado para o orum.
Tudo fazia parte do plano do supremo.


Os homens e as mulheres então, passaram a dar muito mais valor às orientações dadas pelos seus próprios ancestrais, que eram feitas de forma direta e incisiva, o que representava uma segurança maior em relação, àquelas recebidas tanto no culto de Ifá , quanto dos Orixás , que dependiam da interpretação das mensagens transmitidas por meio dos búzios , opelê ou ikins, o que ensejava a possibilidade de erro ou manipulação por parte dos advinhos.

O plano de Olorum estava sendo cumprido exatamente como havia sido elaborado. A terra era dos homens e das mulheres e deveria ser governada por eles. Os orixás haviam cumprido seus papeis com perfeição. Restava-lhes agora, retornar á sua origem o Orun, de onde deviam continuar a exercer controle sobre todos os elementos que lhes haviam sido confiados por Odudua.

A raça humana, a essa altura, já se havia espalhado por toda a face da terra.
Na medida em que se estabeleciam em diferentes territórios, adquiriam características diferentes pela influência do clima e dos novos hábitos alimentares e, depois de alguns milhares de anos, os homens que, na sua origem, possuíam todos a pele negra, foram mudando de cor.

Aqueles que se estabeleceram em regiões demasiadamente frias, embranqueceram, seus olhos tornaram-se esverdeados ou azulados, seus cabelos ficaram lisos e adquiriram uma tonalidade amarelada. Outros, que se estabeleceram no Oriente, perdendo a cor original ficaram amarelos, seus olhos ficaram espremidos pelas próprias pálpebras, e seus cabelos, apesar de continuarem negros, ficaram lisos. Outros mais que, desafiando as águas do Oceano, atingiram as terras que ficavam além do reino de Olokum, passaram a prestar culto ao Deus - Sol, por isto suas pelos ficaram avermelhadas como casca do romã.

Formaram agora quatro raças distintas; A negra, a branca, a amarela e a vermelha, e cada uma se achava superior as outras.

Era costume, na época as incursões a territórios vizinhos com a intenção única de capturar escravos. Este costume, desenvolvido tanto pelos fons, quanto pelos nagôs, viria, muito mais tarde, a ser pago de uma forma muito trágica.

Alguns grupos que embranqueceram molestaram grandes grupos de negros e demonizaram suas crenças nos Orixás. Tribos e mais tribos foram escravizas e levadas para países distantes. Longe de suas terras, de sua gente, de sua identidade de sua a dignidade.

Muitos foram mortos por suas crenças e forma de ver o mundo; Outros para sobreviveram em muitos lugares, para cultuar seus orixás, tiveram que fingir que cultuavam deuses e santos de outras religiões.
Mas a vida, a historia a força fez voltar a os 16 Odus, os príncipes do destino, que recontam suas historias os griôts.